Mãe Divina, Grande Mãe, Arquétipo da Mãe, constelação do complexo materno e seus diferentes efeitos no filho e na filha... não, não quero falar da mãe arquetípica, muito menos do que pode dar errado nessa relação que todas as psicologias, sem excessão, concluiram ser fundamental. Em Sobre os filhos já teci, inspirada em Khalil Gibran, algumas dessas reflexões "psicopatológicas" e aos interessados em conhecer um pouco mais da perspectiva junguiana a respeito da influência da mãe sobre seus filhos, recomendo "Aspectos psicológicos do arquétipo materno" no volume "Os arquétipos e o inconsciente coletivo", da obra de Jung.
Também não quero falar da mãe que "é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba" (Carlos Drummond de Andrade). Não é da mãe "sobre-humana" que a "tudo dá um jeito" e que nunca falha ou que não pode nem se quer morrer! É claro que compreendo a beleza do sentido de eternidade dado à mãe por Drummond; mas não são os poetas (homens!), imbatíveis nos seus mais belos enaltecimentos da "imagem da mãe", que hoje falam à minha alma.
Quero, no meu terceiro Dia das Mães, contemplar a "mãe real", de carne e osso, de Luz e Sombra... E encontro na "Carta ao meu filho" de Isabela Crema, um texto demasiadamente humano, e que talvez por isso mesmo me pareceu divino e digno de ser compartilhado no dia de hoje!
FilhoTambém não quero falar da mãe que "é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba" (Carlos Drummond de Andrade). Não é da mãe "sobre-humana" que a "tudo dá um jeito" e que nunca falha ou que não pode nem se quer morrer! É claro que compreendo a beleza do sentido de eternidade dado à mãe por Drummond; mas não são os poetas (homens!), imbatíveis nos seus mais belos enaltecimentos da "imagem da mãe", que hoje falam à minha alma.
Quero, no meu terceiro Dia das Mães, contemplar a "mãe real", de carne e osso, de Luz e Sombra... E encontro na "Carta ao meu filho" de Isabela Crema, um texto demasiadamente humano, e que talvez por isso mesmo me pareceu divino e digno de ser compartilhado no dia de hoje!
Quero,
antes de qualquer coisa, agradecer-te.
Agradecer-te
por ter-me escolhido para ser sua mãe, dentre milhões de outras possibilidades.
Quero
agradecer por ter chegado e virado minha vida de cabeça pra baixo, revelando o
que há de melhor em mim...
Agradeço
por revelar-me o oceano de Amor que habita minh’alma...
...por
mostrar-me o encanto do desabrochar da vida e da consciência dentro dos seus
olhos profundos, desde o primeiro instante em que saíste de dentro de mim...
...por
inundar-me de um Amor tão puro e transbordante com seus sorrisos, seus
trejeitos, suas graças e conquistas diárias rumo a liberdade à ti destinada.
Agradeço
por fazer-me exercitar a musculatura da paciência dentro de mim,
fazendo com que eu me torne, a cada dia, uma pessoa mais forte, mais
tolerante e, portanto, melhor.
Filho,
agradeço-te por ter virado minha vida de cabeça pra baixo e revelado o que de
pior há em mim...
Compreendi,
com sua chegada, que os filhos vêm do tamanho exato da nossa ferida e chegam
para nos brindar com a oportunidade de lapidarmo-nos, de transformar e limpar a sujeira
que jaz na mais profunda escuridão do nosso ser.
Agradeço
por mobilizar-me diariamente com dificuldades que trazem à tona tantas dores, tantos pactos,
tantos sentimentos ocultos, negados ao longo de toda uma vida e, assim, dar-me
a oportunidade diária de lançar LUZ sobre a minha sombra e dar passos concretos
rumo à cura de minhas feridas.
Filho,
agradeço-te por me brindar com a coragem de olhar para isso tudo e seguir no
meu caminho de transformação me mostrando, na doçura do teu olhar e na pureza
dos teus gestos, que eu posso ser, hoje, uma pessoa e, logo, uma mãe melhor do que a que fui ontem.
Te
agradeço, filho, e também te peço perdão...
Te peço
perdão por cada vez que minhas dores me cegaram nos momentos de cansaço...
... por
cada vez que te tratei como uma criança que não sabe o que quer e tomei
decisões que não levavam em consideração
o seu desejo, a sua emoção, os seus sentimentos.
...por cada
vez que o cansaço me consumiu e eu deixei-me anestesiar com atividades que me
tornaram indisponíveis para você, mesmo estando dentro da mesma casa, da mesma
sala...
...por cada
vez que fui incapaz de decifrar a sua dor e a rotulei de manha e de chatice...
...por cada
vez que fui incapaz de ler os teus sinais e acabei por exceder os seus próprios
limites. Os seus e, também, os meus.
Peço
perdão, filho, por tantos erros cometidos e por tantos erros que ainda
cometerei, pois, filho, devo lembrar-te que escolheste uma mãe humana.
Uma mãe
humana, cheia de defeitos e limitações...
Mas pode
confiar filho! Escolheste uma mãe humana que, além de tantas contradições e
limitações, tem também uma sede profunda pela transformação.
Uma mãe cujo
desejo de curar suas feridas e se tornar uma pessoa a cada dia melhor arde na
alma e no coração...
Irei te
decepcionar muitas vezes, filho... mas uma coisa posso prometer-te, meu amor...
prometo-te estar sempre à caminho do meu ser real que é capaz de acolher-te e
amar-te totalmente!
Filho amado
do meu coração! Te agradeço, te peço perdão... e também te peço paciência.
...peço sua
paciência pois sei que nascestes milhões de anos luz à minha frente e sei que
vens de uma Tribo que vibra um som muitas oitavas acima da minha capacidade.
Peço sua
paciência pois sei que tenho algumas coisas a te ensinar, mas sei também que tu
tens um Universo inteiro a descortinar diante dos meus olhos encantados e mareados de
emoção...
Peço sua
paciência, filho, pois desejo ser capaz de aprender tudo aquilo que o brilho do
profundo dos teus olhos me anunciam.
E peço ao
Universo, meu Amor, que eu saiba adubar bem a terra em que você se
plantou com
respeito total, conexão, justiça e nutrição... que eu saiba regar a sua
terra
com água cristalina, pura, límpida, refrescante e fluida, repleta de
sentimentos e emoções verdadeiras... que eu saiba deixar passar toda a
LUZ
necessária para fazer brotar sua semente plenamente, para despertar, à
cada dia,
o teu ser e a tua missão... que eu saiba permitir que os ventos e os
vendavais da vida cumpram sua missão de esculpir o seu ser, sem cair na
armadilha da
superproteção que sufoca e faz morrer a criatividade e a espontaneidade
que
tanto amo em ti.
Eu peço ao
Universo, meu amor, que eu saiba, neste mundo de tanta concretude e concreto, ajudá-lo
a manter os seus canais de comunicação com os anjos e as fadas, com os teus
guias e aliados, com a beleza vibrante da vida e todas as formas de expressão do
Grande Mistério nesta vida terrena, sempre limpos e livres para expressarem-se
da forma que tiver de ser.
Eu te AMO,
filho... e agradeço-te, do fundo da minha alma, por fazer-me reconhecer a fonte
de amor que há em meu coração e por inundar-me diariamente com o ímpeto de
fazer esta fonte jorrar e transbordar o meu ser.
Que eu
saiba honrar tudo o que és...
Que eu
saiba honrar tudo o que sou...
Que eu
saiba honrar tudo o que somos...
...agora e
sempre...
"Nada
posso lhe oferecer que não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe
outro mundo além daquele que há em sua própria alma. Nada posso lhe dar,
a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar
visível o seu próprio mundo, e isso é tudo."
Herman Hesse
Herman Hesse
Isabela Crema, 10/05/2012
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